Crianças com TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade sofrem com impactos significativos na sua vida por conta do problema. Não basta ser inquieto ou viver no mundo da lua para receber um diagnóstico de TDAH. É necessário que os sintomas de desatenção ou de hiperatividade gerem com comprometimento na funcionalidade da pessoa. O médico avalia esses prejuízos funcionais na vida escolar, familiar e social para firmar o diagnóstico e propor o melhor tratamento.
Muitas pessoas têm receio de tratamentos excessivos decorrentes de diagnósticos apressados diante de uma criança com dificuldades escolares. Alguns acreditam que TDAH seja uma doença da moda e que pais e filhos são constrangidos por várias forças externas para enquadrar seus filhos a um diagnóstico. Quais seriam essas forças acusadas de empurrar as crianças para um tratamento?
Vejamos os argumentos abaixo:
- A indústria farmacêutica lucra enormes quantias com a venda de medicamentos para TDAH no mundo inteiro e quanto mais pessoas em tratamento, maiores serão seus lucros. Seu interesse é fundamentalmente econômico e o bem estar do paciente fica em segundo plano.
- As escolas estão antiquadas e não conseguem se adaptar às necessidades das crianças nessa nova era tecnológica. Isso se reflete no desinteresse pelo ambiente de sala de aula, então professores e coordenadores forçam um diagnóstico para que os remédios obriguem as crianças ou adolescentes a se conformarem com um método que suprime as liberdades e criatividade.
- Pais e mães não têm mais tempo para cuidar dos filhos, passam o dia trabalhando, não acompanham suas dificuldades e não os ajudam a superá-las dedicando-lhes tempo e amor. Diante dessa deficiência, os filhos ficam desnorteados e agem de forma reativa com a intenção de chamar a atenção dos pais, gerando problemas de relacionamento em casa. Como não possuem recursos psicológicos para lidar com os processos dos filhos, delegam essa função para a escola, a psicóloga, a pedagoga e os médicos.
- Nossa sociedade é muito medicalizada, criam-se doenças para rotular qualquer comportamento que saia do padrão dito normal. As diversidades naturais do ser humano são repelidas por expectativas irreais da moralidade conservadora. Essa opressão social e cultural marginaliza os diferentes e lhes deixa apenas duas opções: enquadrar-se (abdicando de ser quem são) ou se afastar (relegando-se à invisibilidade social).
- Os médicos, psicólogos, psicopedagogos e educadores fazem da formação dos jovens indivíduos uma atividade profissional e, portanto, tem um viés no sentido de que diante de uma pessoa qualquer, sempre acharão algo que justifica sua intervenção e a manutenção do cliente pagante.
Analisando com o máximo de isenção que como parte interessada posso ter, devo admitir que essas forças realmente existem e que elas podem exercer um papel crucial no sentido da criação de uma condição que leve uma pessoa a um diagnóstico injustificado e a um tratamento que tenta apenas encobrir as falhas que estão em outros lugares, mas não nas crianças.
Por outro lado, dedicando vários anos de estudo sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, compreendo que existe uma parte da população que apresenta realmente uma doença que tem bases biológicas, genéticas, comportamentais e ambientais e que a identificação adequada dessas pessoas pode lhes dar a chance de receberem o tratamento e o apoio necessário para conviverem com o problema e alcançarem maior realização na vida.
Na prática da vida real, existem pessoas que estão tomando medicamentos estimulantes do sistema nervoso central ou fazendo terapias sem estarem doentes e sem terem necessidade real de tratamento. Mas também existem pessoas que são portadoras de Déficit de Atenção e Hiperatividade que não foi reconhecido e sofrem muito mais do que deveriam pela simples falta de reconhecimento e tratamento.
Ainda que em certa medida, os argumentos acima citados possam ser válidos, não podemos esquecer que existem muitos profissionais que agem de maneira ética nos consultórios, nas escolas e na indústria farmacêutica e que se preocupam em cuidar de quem precisa, sem exagerar nem se omitir nos momentos importantes.
Crianças com TDAH tipicamente tem baixo desempenho acadêmico, repetem anos escolares, abandonam a escola, têm dificuldades nos relacionamentos com os colegas, desagregam a família e são mais propensos a sofrer acidentes do que outros da mesma idade e sem o problema. Adolescentes com TDAH tem maiores chances de serem suspensos, expulsos ou deixarem a escola. Tem maior risco de cair na delinquência, de terem gravidez na juventude, de contrair doenças sexualmente transmissíveis, de serem presos e de utilizarem drogas de abuso.
O diagnóstico correto e profissional do TDAH visa identificar os sintomas que compõem o quadro, bem como os impactos na funcionalidade em vários ambientes da vida. O tratamento adequado empenha-se em evitar que as pessoas afetadas sofram os danos causados pela doença, dando-lhes a oportunidade de seguir caminhos mais felizes e satisfatórios na vida.