O paciente com TDAH tem direito de escolher seu tratamento

Como em outras doenças crônicas, no TDAH há várias opções de tratamento medicamentoso ou não, tradicional ou alternativo, comprovados cientificamente ou experimentais. A multiplicidade de possibilidades terapêuticas é reflexo da variabilidade entre os pacientes e também da falta de um tratamento que seja ao mesmo tempo eficiente, sem efeitos colaterais e que sirva para todos. Assim, o tratamento do Déficit de Atenção e Hiperatividade deve ser sempre individualizado e o paciente deve ajudar o médico na escolha da melhor estratégia de acordo com suas preferências e expectativas.

Há poucas décadas era de bom alvitre ficar apenas ouvindo e acatando tudo o que o médico dizia, deixando nas mãos do profissional toda a decisão sobre a vida do cliente. O médico era colocado em um pedestal e, agindo como um semideus, definia o que haveria de ser ou de não ser. Atualmente, a maioria dos bons profissionais hoje compreende que a medicina tem suas limitações e que a ciência está aí para servir e não para ser adorada.

Graças aos avanços da medicina, muitas doenças fatais se tornaram mais manejáveis e muitos pacientes aprenderam a conviver com problemas crônicos por várias décadas. Também tem permitido o desenvolvimento de medicamentos cada vez melhores, ao mesmo tempo que tem evidenciado mais os possíveis efeitos colaterais de cada um deles, sendo a relação risco/benefício sempre levada em conta antes de cada prescrição.

Como as questões de hoje não são apenas de vida ou morte, de curar ou deixar morrer, criou-se um espaço para reflexão a respeito não apenas da sobrevida, mas principalmente da qualidade da vida de quem sobrevive. Podendo escolher que qualidade de vida considera aceitável para si mesmo, os pacientes tem agora a oportunidade e o dever de decidir junto com o médico qual via de tratamento seguirão.

Pacientes com câncer podem escolher entre cirurgia, radioterapia e quimioterapia, por exemplo, analisando se vale a pena viver mais ou menos de acordo com o custo emocional e de sofrimento físico que cada tratamento implica. Do mesmo modo, pacientes com esclerose múltipla podem escolher se tomarão um medicamento injetável ou oral, um mais brando se a doença for mais leve ou um mais agressivo se a doença for muito ativa, aceitando os maiores riscos com tratamentos mais fortes.

O TDAH é uma dessas doenças que nos dedicamos a cuidar e que se apresenta com diversos caminhos possíveis a partir do diagnóstico. Existem os estimulantes do sistema nervoso central (metilfenidato e lisdexanfetamina), os medicamentos não-estimulantes como a atomoxetina, o modafinil e a guanfacina e outros medicamentos de segunda ou terceira linha utilizados na dependência da gravidade do caso e da presença de comorbidades.

Também existem as terapias não-medicamentosas, como a psicoterapia cognitiva e comportamental, a terapia da aceitação e do compromisso, o treinamento de pais, apoio psicopedagógico, os grupos de aconselhamento peer-to-peer, o coaching especializado em TDAH, a terapia de Mindfulness, a meditação e o Yoga, as terapias corporais, a EMDR, os florais, a homeopatia, a medicina antroposófica, a acupuntura isolada ou em combinação com a medicina chinesa e muitas outras que não caberia aqui descrever. Todas procuram contribuir para o desenvolvimento da pessoa e seu bem-estar.

Cada paciente tem seu universo e ao se sentar na frente do médico, traz consigo suas questões familiares, genéticas, sociais, culturais, psicológicas, espirituais e, obviamente, biológicas que são únicas e irrepetíveis. Como se poderia dar um tratamento padrão para todos?

O tratamento deve ser sempre centrado na pessoa, individualizado e ajustado segundo as necessidades de cada um. O paciente e seus pais, quando menor de idade, devem ser todos envolvidos e comprometidos com o processo de diagnóstico e tratamento. O sucesso depende do acompanhamento periódico para ajustes necessários em função a resposta obtida com cada tipo de intervenção. Por fim, os resultados bons e maus devem ser compartilhados entre médicos, pacientes e familiares, dividindo também a responsabilidade pelos insucessos e o crédito pelas vitórias.

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