Depois da “era da informação”, alguns especialistas dizem que vivemos agora a era das redes. O desenvolvimento da internet ressaltou a percepção que temos sobre as conexões existentes entre assuntos, conceitos, pessoas e tudo que se relaciona ao conhecimento. De fato, as redes são uma ótima forma de representação de conceitos e significados, demonstrando que as idéias não são solitárias, mas se constituem por meio de relações umas com as outras. Trabalhar a compreensão de crianças e adolescentes com as redes como ferramentas pode ser muito interessante, curioso, criativo, educativo e conectado com a realidade da mente.
É interessante pensar que as redes de conhecimento proporcionadas pelos hiperlinks da internet (inter= entre e net= rede, ou seja, redes conectadas) é um reflexo da organização em rede da estrutura física de computadores e seus componentes. Além das ligações entre hardwares que garantem a comunicação e a preservação de dados em computadores locais ou na “nuvem”, a idéia de redes semânticas precede a invenção da internet e se desenvolveu ainda na década de 1960 como forma de representação do conhecimento adaptado à linguagem de máquina.
Mas tudo isso são concretizações daquilo que já temos espontaneamente na natureza. Nosso cérebro trabalha com os conceitos por meio da criação de redes de significação. Uma evidência disso é quando confundimos termos parecidos e chamamos uma caneta de lápis, por exemplo. Isso é o que chamamos em neurologia de parafasia semântica. É mais fácil chamar uma caneta de lápis do que de pincel, por causa da proximidade semântica maior entre os dois primeiros termos, bem como sua frequência de uso no vocabulário das pessoas.
Nosso cérebro funciona criando redes de conceitos e cada novo termo que adentra ao nosso vocabulário, especialmente nas crianças e adolescentes, tem que se encaixar nos modelos mentais previamente existentes. Jean Piaget descrevia como assimilação e acomodação os mecanismos de aprendizado por meio de comparação e adaptação com os esquemas (e redes) pré-existentes no cérebro da criança e que vão se formando em estágios de desenvolvimento cognitivo.
Desse modo, é útil exercitar explicitamente os novos conceitos que se apresentam às crianças por meio das relações categóricas, hierárquicas ou de significados com aquilo que já conhecem. Esse exercício pode ser feito de forma lúdica permitindo e explorando as contribuições que a criança pode dar com sua criatividade e fantasia, bem como podem ser trabalhados os pontos de ancoramento com a realidade mais concreta, investigando e desenvolvendo valores e habilidades.
Os jovens também podem ser estimulados a criar reflexões a partir das relações de entre elementos e conceitos. Quando demandam sua liberdade, por exemplo, é possível discutir como a liberdade individual se insere no contexto da vida em comunidade familiar, social e sobre os compromissos implicados nessa convivência. A liberdade total seria não responder a nada, nem ninguém, agindo apenas de acordo com sua vontade ou impulsos, sem considerar como isso afetaria seu entorno? Evidentemente que não, posto que nossas próprias vontades ou impulsos são, em grande medida, influenciados por nossa vida em sociedade e por tudo que construímos enquanto coletividade humana.
Será que temos a liberdade de interferir na liberdade do outro? Um koan para os jovens decifrarem no seu amadurecimento em busca da autodeterminação.
A maior parte desse conhecimento é adquirido por vias tácitas, no dia a dia da escola e da família. Entretanto, algumas pessoas, como as portadoras de TDAH, tem mais dificuldade de se colocar no lugar dos outros e se deslocar de si mesmo para enxergar os problemas por diferentes perspectivas. Nesses casos, é valioso ter a paciência de trazer para o plano explícito as redes de significado que compõem, sustentam ou alteram os conceitos e valores que dão razão à nossa existência. É também sempre uma oportunidade de lembrar como somos importantes uns aos outros.