O Déficit de Atenção e Hiperatividade provoca grandes impactos na vida das pessoas portadoras, um dos principais refere-se ao desenvolvimento educacional e desempenho acadêmico. A maioria dos portadores de TDAH não chega à faculdade e os que chegam, com grande frequência desistem do curso logo no início. Vamos entender os motivos disso nesse artigo.
Um grande estudo norteamericano, denominado Milwaukee Young Adult Study [MKE], avaliou alunos de colegial e faculdade comparando os portadores de Déficit de Atenção e Hiperatividade com os que não tinham o problema. Os resultados são alarmantes. Pessoas com TDAH repetiam de ano com mais frequência (42% x 13%). Também recebiam mais suspensões (60% x 19%). Enquanto 77% das pessoas sem TDAH chegavam à faculdade, somente 22% dos portadores entravam no ensino superior. Por fim, a chance de concluir os estudos universitários era sete vezes menor para quem tem Déficit de Atenção e Hiperatividade, em comparação com os normais.
Deixando um pouco de lado as questões científicas, vamos compartilhar as razões que observamos em nosso consultório que levam pessoas com TDAH a passarem por diversos cursos e não completarem nenhum. A grande maioria começa e logo desanima, achando que o curso não é bom ou que eles não gostam da área tanto quanto imaginavam.
Em primeiro lugar, vejo que pessoas com TDAH são menos envolvidas com o aprendizado escolar por conta de suas dificuldades acadêmicas e de comportamento. Desenvolvem uma certa aversão por tudo que possa ser representado como “estudo” e fogem do ensino formal como uma maneira de autoproteção, já que sua experiência prática lhes comprova que a escola é motivo de frustração, cobranças, decepções e pouca recompensa mesmo quando se dedicam ao máximo. Crianças com TDAH vêem seus companheiros estudando menos e tirando melhores notas; sentem-se depreciadas e se afastam. A baixa autoestima faz com que a criança ou o jovem com TDAH se aprofunde menos nas matérias, conheça menos sobre as áreas de trabalho e se sinta mais desorientado no momento de escolher uma carreira profissional.
Em segundo lugar, a desregulação do sistema de prazer e recompensa compromete a capacidade de ter planos de longo prazo. Indivíduos com Déficit de Atenção preferem se envolver em atividades que proporcionem prazer imediato e sua vida transcorre quase sempre no curto prazo. Eles têm dificuldade de sonhar e criar planos executáveis que demorem anos. Na verdade, sua distração pode prendê-los no tempo dos minutos e das horas; pensar em semanas, meses e anos é enfadonho e desestimulante, quando não apavorante. Em consequência, seus projetos não se sustentam e seu empenho cai vertiginosamente em tarefas que exigem o adiamento da recompensa, como um diploma depois de 4 anos de curso. Aí acabam desistindo.
Um terceiro fator importante é a impulsividade e o envolvimento pelas novidades. Além de viverem muito no presente e ter dificuldade de enxergar os benefícios do sacrifício para atingir uma meta no futuro, pessoas com TDAH movem-se muito por impulsos. Isso faz com que se apaixonem por um curso ao ver uma propaganda e logo depois já percam a gana. Às vezes, sentem-se atraídos por diversas coisas ao mesmo tempo, pelo mesmo impulso superficial, e se sentem indecisas. Quando se entregam aos impulsos em começam um curso, a empolgação logo se esvai porque a novidade passa em poucos meses. Pessoas com déficit de atenção e hiperatividade gostam de novidades e de emoções, persistir em uma atividade rotineira ou monótona é extremamente pesado para elas.
Por fim, grandes esforços mentais assustam e desestimulam quem tem TDAH. Isso vale para um trabalho que envolva a leitura de 20 páginas de livro ou a escrita de 10 páginas. Também vale para o curso inteiro e todo o esforço de dedicação necessário. Quando vêem o tamanho do “trampo”, do imenso “rolê”, da enorme “função”, sua vontade é de simplesmente abandonar. Como não podem fazer isso, adiam o início de cada trabalho até o último momento. Conseguem agir somente quando sobrevém o desespero, fazem apressados e já atrasados no prazo de entrega e, evidentemente, tiram notas baixas, ficando ainda mais desestimulados.
Como podemos melhorar essa situação e aumentar as chances de concluir a faculdade?
É preciso dar apoio desde os primeiros anos escolares, com diagnóstico e tratamento adequados, apoios particulares, ajustes pedagógicos e envolvimento emocional positivo em situações de aprendizagem. Ganhar o costume de ler revistas ou livros é fundamental para ampliar os horizontes e gerar sonhos concretizáveis.
Também é necessário trazer a mente do jovem para a terra, fazendo-o tomar contato com as questões concretas da vida. Ele precisa se sentir encarnado, incorporado na sua própria existência, sendo capaz de perceber o ambiente e aprender a criar planos de curto, médio e longo prazo. Uma das formas de se fazer isso é escrevendo em um quadro branco, de modo a que tarefas, objetivos e rotinas tornem-se visíveis e palpáveis.
Deve-se respeitar as habilidades, talentos e dons inatos e escolher uma área que permita dar expressão a essas capacidades naturais. Isso é mais importante do que o “gostar” do tema porque muitas vezes o gosto é superficial, mas trabalhar em algo que se é bom aumenta a chance de bons resultados e estímulo para continuar. Além disso, se a resistência para longos projetos é pequena, é melhor escolher um curso mais curto. Do mesmo modo, se aplicar-se no campo teórico é muito desafiante, áreas mais técnicas e práticas favorecerão o indivíduo.
Para terminar o longo texto, vale uma palavra de confiança. Se você tem TDAH, não importa se vai começar a faculdade mais tarde depois de ter trabalhado alguns anos. Ainda está valendo. Ou se a primeira faculdade não foi concluída, respire, se recomponha e comece de novo. A cada ano você fica mais experiente e suas chances de sucesso aumentam se você não desistir. Força na peruca!