Meu filho é hiperativo e não me obedece. O que devo fazer?

Conviver com uma criança hiperativa pode ser estressante e desgastante para os pais. Em geral é a mãe que sofre mais com a situação porque fica mais tempo com a criança. Como não tem as ferramentas necessárias para lidar com a inquietação do garoto ou garota, a relação torna-se conflituosa e a sensação de impotência é grande. Aqui falaremos um pouco sobre os desafios de educar crianças inquietas.

Em primeiro lugar é preciso saber que a cabeça de uma criança com déficit de atenção e hiperatividade funciona de um modo muito particular. Devido ao atraso da maturação de algumas áreas e funções cerebrais, elas demoram mais para adquirir o domínio sobre o próprio comportamento. Em geral, esse atraso fica entre 2 e 3 anos, de modo que uma criança hiperativa de 12 anos tem a responsabilidade e compreensão do meio equivalente a uma normal de 9 ou 10 anos.

Uma das dificuldades de quem tem TDAH é de respeitar a hierarquia, a autoridade e as regras do ambiente. Em cerca de 40% dos casos, esse comportamento de inconformidade com o meio leva ao aparecimento de uma comorbidade denominada Transtorno Desafiador e Opositivo. Tais crianças não aceitam que lhes digam o que fazer e acabam se isolando ou sendo excluídas pela dificuldade que apresentam no convívio social.

Como é de pequeno que se torce o pepino, recomendamos aos pais que mostrem sua autoridade aos seus filhos desde cedo e estabeleçam precocemente quem manda. Muitos pais têm medo de dizer não a seus filhos e acham que têm de desenvolver o pensamento crítico e racional nas crianças desde o início. Em nosso ponto de vista esse é um equívoco. Os pais tem que ditar as regras e não devem temer responder aos questionamentos do filho com um simples “porque sim” ou “porque eu estou mandando”.  Será com base na percepção de hierarquia que aprenderá no relacionamento com os pais que a criança depois vai respeitar o professor, o diretor, o policial, o juiz e as leis da sociedade.

Explica o professor Nilson Machado que hierarquia não é algo abominável. Ao contrário, é bastante salutar o desnível em alguns tipos de relacionamento, como entre pai/mãe e filhos, professor-aluno, mestre-discípulo, orientador-orientando etc. É graças a esse desnível que se possibilita a transmissão de conhecimento, estando um na posição para doar e outro na posição para receber.

Também é preciso lembrar que crianças com déficit de atenção são…. desatentas! Por isso, a mãe não pode gritar da cozinha para o menino ir fazer a tarefa. Toda instrução que a mãe vai dar a seu filho deve ser precedida de um contato visual, olho no olho, garantindo que toda a atenção da criança está inteiramente dedicada à genitora. Se a mãe fala com a criança de costas para ela, acaba ensinando que muita coisa que fala pode ser desconsiderada. A criança aprende que só deve prestar atenção quando a mãe grita e se a mãe grita sempre, ela só vai levar a sério quando a mãe surta. Isso gera um enorme estresse na relação. Mais do que qualquer um, a criança com TDAH precisa de constrastes evidentes para formar seu repertório interno sobre os tipos de comunicação e emoções.

Outro problema da criança com Déficit de Atenção e Hiperatividade é a dificuldade de organização, inclusive de organização interna dentro de sua própria mente. Isso se reflete na dificuldade de estabelecer prioridades e perceber as regras de casa ou da escola. Diante dessa limitação, os pais devem ter um cuidado redobrado no sentido de criarem externamente as estruturas de prioridades para que a criança possa incorporá-las a seu próprio tempo.

A maneira de fazer isso é esclarecendo bem as regras de casa. Os pais devem estar de acordo sobre quais são as regras e não pode haver discrepância entre suas atitudes. Nossa recomendação é que definam algumas poucas regras que são inegociáveis e que servem de colunas sustentadoras do edifício. Essas regras não podem ser quebradas em hipótese alguma e devem ficar bem claras para a criança, inclusive com as punições adequadas caso ela as viole. Essas regras inegociáveis devem ficar tão claras que a criança não as tente mudar pedindo por favor, choramingando ou seduzindo. Não deve ser não, sim deve ser sim.

Além das regras inegociáveis, de maior peso e que servem como os pilares do relacionamento, devem existir regras menores, negociáveis e flexíveis. Por exemplo, o horário de dormir nos fins de semana pode ser alterado para mais tarde caso a criança queira fazer alguma atividade e tenha se comportado adequadamente no dia ou na semana. Cada família deve estabelecer para si quais são as regras fundamentais e quais são as acessórias.

Por fim, é preciso manter a consistência ao longo do tempo. Não se mudam as regras sem combinação prévia. A criança precisa ter a certeza da regularidade entre causas e consequências.  Alguns podem achar que toda essa disciplina torna o ambiente meio militarizado e pouco moderno. Mas na verdade essa configuração clara e coerente gera para a criança a segurança de um ambiente estável, no qual ela consegue prever as repercussões de seus atos e aprende a regular seu comportamento.

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