Crianças e jovens com déficit de atenção e hiperatividade têm muito mais chance de se envolver em acidentes e de se machucarem. Estão sempre ralados, com curativos ou com gesso em algum membro. Parece que eles não procuram a encrenca, mas é a encrenca que os procura. Antes de falar dos cuidados especiais em caso de batidas na cabeça, vamos ver porque os peraltas se machucam tanto?
Em primeiro lugar, pessoas com déficit de atenção andam mais distraídos e estão mais propensos a não verem os obstáculos do caminho e, quando são hiperativos, estão em todos os lugares ao mesmo tempo, expondo-se mais a riscos por uma simples questão estatística.
O segundo motivo é que a impulsividade se manifesta de duas maneiras: busca de sensações e busca de novidades. A consequência da busca de sensações os torna mais facilmente atraídos por esportes radicais, situações perigosas e que envolvem adrenalina. Já a busca por novidades pode fazer com que não fiquem na mesma atividade até ter um bom domínio da mesma porque se cansam e logo passam para outra coisa na qual são completamente inexperientes. Como são sempre newbies e tem conhecimento superficial, estão mais sujeitos às dificuldades do começo de qualquer aprendizado.
Um terceiro motivo importante é que crianças e adolescentes com TDAH são mais desastrados e vivem quebrando as coisas em casa ou tropeçando em objetos. Isso acontece porque eles tem um problema na maturação do cerebelo que é a parte do sistema nervoso central responsável pela coordenação. Essa dificuldade se acentua quando entram na puberdade e os membros crescem mais rápido do que a representação corporal interna, como acontece com todas as crianças.
O resultado é que pelas razões enumeradas e outras mais que não cabem aqui, pessoas com Déficit de Atenção e Hiperatividade precisam de mais vigilância dos pais para que não se machuquem seriamente e estejam protegidas dos danos que podem ser graves, especialmente no caso de traumatismo craniano.
Pouco se fala no Brasil sobre o problema das concussões cerebrais repetidas. Uma concussão é um trauma craniano que causa uma certa confusão ou perda de consciência. Em geral, quando isso acontece os pais levam menino ou menina ao hospital, fazem uma tomografia, observam por 24 horas e são liberados sem qualquer orientação especial. Mas isso não é suficiente!
Nos EUA, onde a prática de esportes é levada muito a sério e existem esportes de contato como futebol americano, rugby e basquete, já existe uma maior consciência sobre os graves riscos nos casos de concussões repetidas. A Academia Americana de Neurologia tem muito material de orientação para treinadores, atletas e seus pais.
Ao contrário do que se pensa, o cérebro pode demorar mais de um mês para se recuperar completamente de uma concussão. Nesse período de convalescença, caso aconteça uma nova concussão cerebral, existe a possibilidade de que o cérebro ainda meio danificado tenha uma reação anormal de inflamação e inchaço, aumentando a pressão intracraniana e podendo deixar sequelas graves ou causar até a morte. Sabemos hoje que pessoas com história familiar de enxaqueca, principalmente a hemiplégica, estão mais sujeitas a serem vítimas de edema cerebral grave por concussão repetida, mas todo cuidado é pouco.
No caso de um acidente com traumatismo craniano e perda de consciência, o garoto ou garota deve ser avaliado e acompanhado por um neurologista que determinará o momento em que é seguro voltar para o esporte. Em geral, recomenda-se que 30 a 60 dias sejam respeitados e os professores de educação física também devem estar cientes. Se seu filho passar por algo parecido em casa, não deixe de entrar em contato com a escola e pedir que não deixem ele se exercitar até segunda ordem. Sempre é melhor prevenir do que remediar.