Os primeiros relatos de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Muitas pessoas acreditam que o TDAH é uma condição moderna porque somente nas últimas décadas temos ouvido falar mais a respeito do problema. O número de pessoas que passaram a ter acesso a tratamento e a se beneficiar dos recursos terapêuticos e pedagógicos que aumentam suas chances de sucesso acadêmico e profissional aumentou bastante nos últimos anos, mas a maioria dos portadores permanece sem diagnóstico.

Um dos primeiros relatos médicos que parece tratar do TDAH é de 1798, quando Sir Alexander Crichton publicou observações sobre pessoas que tinham dificuldade de se manterem atentas e engajadas numa tarefa por um período mais longo. Em seu texto, Crichton interroga se a origem da dificuldade seria inata ou consequência de algum dano cerebral pós-parto.

Antes dele, o médico alemão Melchior Adam Weikard publicou um livro médico em 1775 em cujas páginas figurava uma artigo inteiramente dedicado a “Transtornos da Atenção”. Várias décadas depois, ainda na Alemanha, o doutor Heinrich Hoffmann criou um livro ilustrado infantil contando a estória de um garoto inquieto com caraterísticas muito típicas de TDAH na forma hiperativa.

Fidgety Philip – um garoto inquieto

Chegando ao século 20, o mundialmente conhecido Dr. George Frederic Still descreveu em 1902 vinte casos de crianças com um “defeito de controle moral como uma manifestação mórbida, sem um comprometimento geral do intelecto ou de outra doença física”. Naquela época ele reconheceu ainda que muitas pessoas que se dedicavam a limpar chaminés eram portadores de uma dificuldade de atenção e de se conformar a regras da sociedade. Como limpar chaminés reduzia a sobrevida, devido a exposição à poluição, em geral pessoal com alguma deficiência intelectual ou física viviam desse tipo de ocupação. O Dr. Still identificou indivíduos com inteligência e físico normal que, no entanto, não conseguiam se engajar em profissões melhores por falta de comprometimento.

Em 1932, Franz Kramer e Hans Pollnow descreveram o distúrbio hipercinético na Alemanha. Poucos anos depois, Charles Bradley publicou em 1937 o efeito positivo dos estimulantes do sistema nervoso central em crianças com déficit de atenção e hiperatividade.  Em 1944 foi desenvolvido o metilfenidato que em 1954 passou a ser comercializado sob o nome de Ritalina.

Como vemos, o TDAH sempre existiu como uma questão biológica. Entretanto, nos últimos anos temos mudanças ambientais significativas, com maior demanda escolar pelo acúmulo de conhecimento nas últimas décadas. A exigência sobre as crianças nas escolas tem aumentado e aqueles que têm alguma dificuldade passam a ser mais notados.

Como lidar com essa situação é algo ainda controverso. Se por um lado, não queremos nossas crianças medicalizadas, por outro não queremos privá-las da chance de participar plenamente da tecnologia e da ciência contemporânea.

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